domingo, 6 de abril de 2008

Sonhos


A habilidade de sonhar acordado começa na infância, com os primeiros brinquedos, como blocos de montar super-gigantes. Sonhamos com tudo, a vida, na infância é um sonho em si, com um universo inteiro de cores, texturas, sons, aromas, sabores, a ser desvendado. Há um mundo de possibilidades para nós. Tudo, absolutamente tudo, pode acontecer dali em diante.

Quando somos crianças, podemos ser médicos, advogados, astronautas, engenheiros, jornalistas, cantores, dançarinos, atores, viajar o mundo num barquinho de papel ou no rabo de uma pipa. Nem o céu impõe limites. Somos imortais, pois não temos, ainda, idéia da morte. Mudamos de sonhos com a freqüência que mudamos de roupa. E sonhamos com tudo! Até mesmo um prato de brigadeiro só pra gente, ou uma travessa de bolo saída do forno.

Impossível não existe aos 5 ou 6 anos. É uma palavra tão desconhecida quanto infinito. Os sonhos vão multiplicando com o número de amiguinhos presentes. E cada dia é uma nova descoberta. Sentimo-nos o centro do mundo.

Talvez haja uma certa maravilha na ignorância, como diz o ditado "ignorance is bliss" (ou, a ignorância é felicidade, numa tradução livre). Conforme vamos crescendo, as oportunidades parecem ser filtradas. Somos encaminhados ou vamos caminhando para um destino mais concreto e menos utópico.

Na adolescência vem o turbilhão de emoções. Além da alteração nos hormônios e no próprio corpo, é mais ou menos por aí que encontramos os primeiros obstáculos e as primeiras decepções. Já sabemos que não somos imortais e já enfrentamos bastante dor. Ainda há, na adolescência, o vestibular, a escolha da profissão. Não podemos mais ser astronauta na segunda, cantor na terça, médico na quarta, engenheiro na quinta e ator na sexta. Temos que escolher que caminho trilhar dali para frente.

Na faculdade começamos a ser tratados como adultos. Muitas vezes, quando surgem as dúvidas, sequer temos a quem recorrer. Não há manual de sobrevivência e, dificilmente, amigos de infância em quem se apoiar. Não sabemos, ainda, quais livros são bons e quais são ruins. Não sabemos em quem contar. Há uma centena de pessoas nas salas, corredores, bibliotecas e ninguém parece ter tempo para ajudar o "calouro".

Não somos mais o centro do mundo.

A vida está mais difícil e mais sem sentido. Crises de identidade, depressão, tudo faz parte. Sentimo-nos inadequados para tudo isso. Mais decepções estão no horizonte. Às vezes tudo parece dar errado.

A vida adulta não é mais fácil. Estágio, primeiro emprego, processo seletivo, concurso. Uma infinidade de novas palavras que, quando crianças, nem vislumbrávamos a existência. O imposto, tão certo quanto a própria morte.

Quando menos esperamos, perdemos a capacidade de sonhar. Os planos para o futuro limitam-se a um plano de aposentadoria e a poupança para as férias. As responsabilidades, cobranças sufocam até nossos pensamentos.

De repente temos a impressão que caímos na vida de outra pessoa. Não é possível que a criança despreocupada tenha virado essa pessoa. Aliás, não reconhecemos nossas faces no espelho. Aqueles fios brancos, aquelas rugas só podem ter aparecido durante a noite. E cadê a vida que imaginávamos? Aonde foram parar todos aqueles sonhos?

Se conseguirmos, então, parar, podemos ver que o futuro ainda permanece em branco. Que não é tarde para sonhar e que a vida pode ser diferente. Ainda podemos reinventar os sonhos, ainda que não possamos mais ser astronautas. Mas podemos jogar fora todas as nossas mágoas de decepções passadas e tentar novamente. Um novo vestibular, um novo amor, uma nova chance. Podemos, inclusive, buscar o perdão de erros passados e cometer novos erros.

E, assim, podemos alterar o rumo da nossa história.


Um comentário:

Anônimo disse...

Bom dia Vivisss!

Sabe? Normal. Você, eu, todo mundo.

E o que não é estarmos aqui senão aprendizado, certo?

Beijos em seu coração, amiga! Boa semana.