segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Minha Avó - Parte I

Olhando na minha caixinha de recordações (aquela, que a gente guarda no fundo do armário), encontrei uma cartinha com a caligrafia da minha avó. Era um bilhetinho simples, que dizia, em suma, que eu tinha bom gosto. Eu, a neta que anda de calça jeans e tênis, que freqüentemente se esquece que existe maquiagem e que passa longe de salões de beleza. Amor de vó é meio cego mesmo.

Mas talvez amor de neta também seja. Ou talvez não. Talvez eu tenha tido uma avó tão fenomenal que merecesse ser eternizada em monumentos e adorada por povos inteiros. Um ícone do feminismo sem saber, uma mulher de fibra e um ser humano espetacular. Assim era a minha avó.

Não pensem que ela era dessas avós calmas, submissas, de voz mansa e pacata, que chega à tarde com quitutes. Tudo bem que ela fazia os quitutes e tricôs e crochês, mas ela não tinha nada de calma, submissa ou pacata.

Ela superava as expectativas de qualquer um. Dirigiu com 14 anos, pilotou avião aos 18, fez, junto com uma amiga, o primeiro maiô de duas peças (que antecedeu o biquíni), casou-se "tarde"(aos 22 anos) e foi com o marido que aprendeu a passar a primeira peça de roupa. Virou-se sozinha no México, sem falar o idioma, com quatro crianças pequenas, durante uma semana, enquanto esperava o vôo que a levaria a Cuba, aonde o marido, então funcionário das Nações Unidas, a aguardava.

E eis que um dia, partiu. Acredito que ela escolheu o dia, o momento...Com os quatro filhos presentes (sendo que dois estavam visitando), e alguns dos netos, partiu no exato instante em que lhe viraram as costas para olhar a janela.

Saudades!

Depois conto mais...
Passados


Voltando ao assunto em pauta na última quinta-feira, às vezes penso que o passado deveria ficar no passado. Ainda mais quando ficou aquela situação irremediável. Quase como pessoas morando em lados opostos do globo, ou quando o moço resolve seguir a mesma orientação sexual da moça. Aí é fechar a página, o livro, trancar no baú e jogar a chave fora. Mesmo.

Tem horas que a melhor coisa a se fazer é uma cirurgia no cérebro para esquecer tudo. Se as indústrias farmacêuticas descobrissem a fórmula para uma pílula que provocasse uma amnésia seletiva, elas estariam feitas. Seria mais famosa do que a pílula do dia seguinte. Seria uma pílula contra a ressaca moral.

Mas, seria necessário inventar um mecanismo para não cairmos na mesma armadilha duas vezes.

O ser humano é engraçado nesse aspecto...nunca vi outro animal insistir tanto no mesmo erro. É uma vontade de acreditar que tudo vai ser diferente, que vai mudar, sei lá. Um dia descubro a razão de tudo isso.

Por enquanto, vou esquecendo o que foi e vivendo o presente.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Quando o passado volta
Estava eu, hoje, arrumando as minhas coisas para sair para o almoço quando o telefone toca. Era a cobrar. Um número desconhecido e, ainda por cima, DDD. Desliguei. Tocou de novo. A cobrar. Resolvi esperar a pessoa se identificar. Era o passado.
Que medo!
Eu já sabia que o passado era assim. Quando menos esperamos, volta a nos assombrar. O que eu não esperava era que ligasse a cobrar.
Deu uma vontade de falar que era engano, fazer voz de telefonista dizendo "Esse número mudou...", mas depois que se fala "Alô" não tem mais jeito.
E foi então que hoje, finalzinho do mês de outubro de 2007, fui obrigada a encarar um passado daqueles que se espera esquecer.
Assim é a vida.