quarta-feira, 27 de maio de 2009

Cozinhar Para Um Não é o Fim

Morar sozinha é ótimo. Ninguém para encher o saco, você faz o que quer, na hora em que bem entende. Eu adoro. Só que na hora de cozinhar é um pouco complicado.

Eu adoro comidas saudáveis (e porcarias também). Uma couve refogada, um brócolis no arroz, uma saladinha de espinafre, um peixe grelhadinho, uma sopa no fim do dia... Só que, morando sozinha, a preguiça de cozinhar é monstra e, além do mais, as receitas que a gente encontra por aí não ajudam. A sopa é pra seis, o arroz dá pra quatro, o risoto, no mínimo, para dois. Aí complica. Vai tentar cozinhar 1/4 de xícara de arroz. Ou comprar verduras no mercado.

Se eu quiser comprar uma alface, sei que vou ter que ficar comendo aquilo por, no mínimo, dois dias, senão estraga na geladeira.

Procurando receitas na internet (práticas, de preferência), deparei-me com uma reportagem no site da Marie Claire americana, dizendo sobre a mulher empurrando um carrinho de supermercado com areia para gatos, um pacote de tampax e umas comidas congeladas. Fiquei ligeiramente deprimida (se é que isso existe!).

É uma mania terrível das pessoas acharem que as mulheres que moram sozinhas (e têm gatos) são mal-amadas, frustradas, etc. Não é assim.

Depois de muita terapia, confesso, sou uma pessoa bem resolvida. Tenho meu canto, um bom emprego, meus gatinhos, uma boa quantidade de bons amigos e um namorado maravilhoso, para quem eu já cozinhei, sim!! Só que, invariavelmente, se decido comer em casa, acabo fazendo algo semi-pronto ou descongelando uma lasanha.

Preconceito pouco é bobagem: Na revista dizia, ainda, que não pode faltar na geladeira de uma mulher solteira/sozinha um pote de sorvete e pasta de amendoim (peanut butter). É a idéia que "já que fica deprimida mesmo..." Fala sério...

Portanto, gostaria de algumas ideias de vocês para cozinhar sem muita lambança coisas pra uma pessoa só. Conforme eu for testando e aprovando receitas que me mandarem por aqui ou que eu encontrar por aí, vou postando. Que tal?

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Momento Cecília Meireles

Ou isto ou aquilo

Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo . . .
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

As Escolhas de Cada Um....


Pegando o gancho do último post, devo dizer que até compreendo quem larga a profissão para criar os filhos. Não dou meu apoio, nunca faria isso, mas entendo que ainda há pessoas que por razões pessoais acabam virando donas de casa e responsabilizando-se unicamente pela criação dos filhos.

Casamento hoje em dia, ao contrário do que Maria Mariana disse, é um ambiente de compromisso. Eu lavo a louça, você lava as roupas, eu passo, você guarda. Eu levo os filhos na escola, você busca. Eu faço as compras e você paga a empregada. Não tem essa da mulher ter uma outra jornada de trabalho sozinha enquanto o marido está com os pés pra cima, assistindo televisão e tomando cerveja. Não estamos mais em 1950!

Num mundo ideal, um dos pais poderia ficar em casa criando dos filhos, enquanto o outro trabalha. Sem estresses e com um plano B, caso o tal parente em casa fique louco com os rebentos (isso acontece!). O importante, acho, é um conhecer bem o outro e ambos conhecerem bem os filhos. Não adianta nada o pai ter três empregos para a mulher e os filhos ficarem dentro de casa. Assim não vale. Aí é criar o filho sozinha.

Tem crianças que se desenvolvem melhor em ambientes maiores (escolas com milhares de alunos, ensino massificado), outras desenvolvem melhor o seu intelecto em ambientes menores, mais familiares (meu caso). Não sei como se descobre isso numa criança, mas sei que não é ignorando os filhos que os pais vão perceber isso.

Num mundo ideal, uma criança tem pai e mãe até, pelo menos, os 20 anos.

Mas, não vivemos num mundo ideal. Via de regra, um emprego para sustentar um casal com dois filhos (vamos pelo padrão), não dá. Escola, plano de saúde, dentista, supermercado, pelo menos uma faxineira (nem falo de empregada, que já é luxo), mais inglês, natação, vestuário, lazer, o cinema com os amigos, etc. O seguro do carro, o IPVA, as contas de água, luz, telefone, a prestação do apartamento (ou aluguel), o IPTU, o vazamento no banheiro, o presente da professora...

Aliás, pagar é o mais fácil. Difícil mesmo é decidir.

Levar os filhos na escola (o que é ideal, mas nem sempre viável, na minha opinião), ou contratar uma van? Em quais esportes matricular os filhos? Inglês é essencial. Mas se for para escolher um outro idioma, espanhol ou francês? Qual escola matricular? A mais perto de casa ou a mais longe, porém melhor? Com que idade deixar a criança usar transporte público? Na casa de quais amiguinhos deixá-las dormir? E quando elas tiverem namorados? Permitir que um durma na casa do outro? A partir de que idade?

E como educar sem ser tirante e como punir sem ser injusto?

Meu pai "conversava" com o cinto. Cresci não concordando com punições físicas. Mas como não dar um tapinha na mão da criança que está prestes a colocar os dedinhos na tomada pela 5a vez em 2 minutos?

Aliás, como proteger o suficiente para evitar sofrimentos injustos e, ao mesmo tempo, permitir que os filhos cresçam com os próprios sofrimentos? Não dá pra proteger demais e não queremos "soltar" demais. Quanto é o suficiente?

E como contar para uma criança que existem pessoas más. E que elas estão (ou podem estar) nas ruas, nas escolas, na igreja, na casa do melhor amigo e dentro do computador... Como explicar que a maior parte dos abusos cometidos ocorrem dentro de casa ou em lugares frequentados diariamente pelas crianças?

Não. Não estamos num mundo ideal. Não é tudo lindo e maravilhoso e cor-de-rosa. É preto, branco e cinza. A gente tem que escolher o que acha melhor, para nós e para os nossos filhos... E nada disso é fácil...
Confissões e Confusões na Blogosfera
(A adolescente rebelde que virou mãe careta)

A Maria Mariana, que escreveu Confissões de Adolescente, agora publica o Confissões de Mãe, quase vinte anos após o primeiro livro rebelde sem causa. O rebuliço criado na blogosfera não está no gibi.

Não li o livro (até quero ler pra ver o que ela diz), mas a entrevista dada à Isto É leva a crer que Maria Mariana virou mãe daquelas de 1950. Que acha que o bonito é ficar em casa cuidando dos filhos e deixar o homem trazer o bacon.

Eu não sou mãe. Não pretendo ser mãe. Talvez um dia até mude de idéia. Mas não por agora.

Minha mãe casou-se com o primeiro homem que amou. Amor adolescente, casou-se aos 21 anos, já comigo no colo. Na cabeça e no coração, todas as certezas de viver feliz para sempre. O "para sempre" durou 11 anos. Até meu pai se apaixonar por outra e querer logo o divórcio.

Depois disso, ele se afastou de mim e da minha irmã (que era um bebê). Ele não tinha o menor interesse em saber da minha vida ou da minha irmã e, creio, acredita até hoje que o único dever dele é pagar pensão se der. Aliás, pra quê pagar pensão? Ele nem fica com as filhas...

Depois disso ele ainda teve mais uma filha (hoje, com 6 anos). Que, aliás, deve ser mais uma criança sem referência masculina em breve (ele e minha madrasta estão se separando depois de, pasmem, 11 anos de casamento). Afinal, para ele "entre ver as filhas uma vez a cada duas semanas e não ver, prefiro não ver". Frase dele.

Mas isso não é sobre mim. É sobre minha mãe (e todas as milhões de mães solteiras por aí). Minha mãe que preocupou-se em fazer faculdade e concurso público para ter o dinheiro dela, a renda dela, independente do meu pai. Ela que fez pós graduação e mestrado para ser uma profissional melhor. Ela que, com tudo isso, criou sozinha duas filhas. E, pelo resultado, criou bem.

Deve ser muito bom, no entanto, como a Maria Mariana, poder se dar ao luxo de ficar em casa para cuidar dos filhos. Deve ser ótimo ter certeza (?) que o casamento vai durar para sempre. E se não durar, ter um pé de meia feito pela venda dos dois livros que publicou e, quem sabe, uma ajuda do papai (para poder ficar em casa lambendo a cria).

A realidade, minha cara, não é tão simples para milhares de mulheres. A maior parte delas tem que trabalhar pra sustentar a casa, os filhos e, às vezes, o marido, o pai, a mãe. E sem essa de ter alguém para ajudar. Muitas ficam à mercê de babás ou creches nem sempre confiáveis.

Não devia falar sobre depressão pós parto, mas vou: depressão é uma doença, como diabetes. Ninguém tem culpa ou faz por merecer. É um desequilíbrio do corpo. Não existe diabetes gestacional? Então? Existe depressão pós parto. Se você é uma das felizardas que não teve nada disso, que sorte.

Quanto ao parto: se você pôde se dar ao luxo de ter um parto normal, que bom. O obstetra da minha mãe (e muitos outros) cobram mais caro por isso. Afinal, médico ganha por parto e não gosta muito da ideia de ficar horas esperando a criança "dar o ar da graça". A minha irmã nasceu de parto normal (a filha do meu pai com a minha mãe). Foram quase 12h de trabalho de parto. Eu também nasci de parto normal. Também com várias horas de trabalho de parto. A minha outra irmã, filha da minha madrasta, estava em sofrimento fetal por uma eclâmpsia. Teve que ser retirada às pressas. O parto levou em torno de 1h.

E tem gente que não consegue mesmo ter parto normal. Conheço gente que queria e ficou três dias tendo contrações sem ter um só centímetro de dilatação. Acabou fazendo cesárea pq não teve jeito. A culpa deve ser dela, né?

Só mais um ponto, para rir um pouquinho.... Filha única, madura, aos 7 anos? Estou para ver uma criança assim. Pode ler Goethe, Shakespeare, o que for. Não existe filha única madura aos 7 anos. E isso eu falo por experiência. Fui filha e neta única até os 7, filha única até os 11. Não existe criança madura aos 7 anos. Não que a maturidade não possa vir cedo, mas ela vem com a experiência e não existe ninguém experiente aos 7 anos.

O que você fazia aos 7 anos? Pagava suas contas? Saia sozinha? Ia para a balada? Menstruava, pelo menos, criatura???

Por tudo o que eu li (e, sim, eu li Confissões de Adolescente), vejo e penso que Maria Mariana é, sim, uma grande filhinha de papai.

Essa pose de Amélia não me engana. Ela pode até ser uma mulher feliz, submissa, com marido e filhos, mas isso tá mais para historinha de ninar ou novela das 6.

Casou, teve filhos (uma penca) e viveu feliz para sempre.

Finge que é assim pra todo mundo.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Comprar não é Fazer

Hoje em dia compra-se tudo pronto. De pipa e carrinho de rolimã a viagens pelo espaço. Difícil acreditar que, em algum lugar, existe uma criança que corte o bambu e o papel de seda e cole cuidadosamente um no outro, preocupando-se em não deixar o bambu muito úmido para não estragar o fino papel. Ou que jogue bolas de gude com as crianças da rua e faça campeonatos de soltar pião.

Quando eu era pequena, quando ia ao sul, via tudo isso. Meus tios ensinaram o meu primo mais velho a fazer carrinho de rolimã, pipa, pião. Todos nós aprendemos (ou tentamos) tirar leite da vaca (e já levávamos nossas canecas cheias de chocolate em pó). Enquanto isso, a minha avó fazia guloseimas para nós, muitas com coisas da própria casa. Queijo, manteiga, doce de leite. Acho que nunca vi comida congelada lá, exceto carne de algum animal abatido in loco. (antes que me critiquem, lembrem-se que o sul do Brasil é terra de carnívoros vorazes...eu nem gosto de carne). Já vi linguiça sendo feita e presenciei o nascimento de animais, inclusive um bezerrinho que, por algum motivo, não sobreviveu.

O que minha mãe mais gostava de comer (e que minha avó sempre fazia quando estávamos lá) era mandioca. De todos os jeitos. Elas estavam presentes em refeições que eram verdadeiros acontecimentos. Sempre vários pratos na mesa, tudo muito colorido. E ninguém (exceto meu avô) era gordo. Não se falava em academia, colesterol, glicose...

Nos dias frios, tinha sempre um bolinho de chuva, um chocolate quente, um chá (meio bizarro) para quem estivesse gripado.

As visitas ao mercado eram pra comprar alguma besteirinha ou coisas que não se plantava lá. Até sorvete e iogurte lembro da minha avó fazendo.

Muita gente da minha idade não sabe muito bem o que é isso. Tenho uma certa pena. Eu mesma tenho mais comida congelada do que gostaria e frutas e verduras acabam, às vezes, se perdendo na minha geladeira. Mas posso dizer que já fiz comida "de verdade". Uma sopa de verduras e legumes, um caldo verde, um arroz soltinho com peito de frango grelhado, uma massa com molho delicioso feito com ingredientes selecionados por mim.

Mas sinto falta de ver a nata do leite virando manteiga no batedor antigo (e manual!) da minha avó. Não sinto falta, no entanto, do cheiro do leite talhado virando queijo, nem de ver animal sendo abatido.

Vejo o quanto a vida mudou. O quanto somos alienados hoje. Hoje compramos o que nossos avós faziam. Por mais simples que seja. Até bolo já vem em caixinha.

Saudades...