domingo, 27 de abril de 2008

Sim, não ou talvez?


Depois de levar mais um fora monumental (algo que acontece com todo mundo), fiquei pensando em algo que ouvi: "pelo menos você tentou, você foi atrás."

Decidi que a pessoa tinha razão. Claro que se não tivesse investido, não teria me machucado, mas também não teria tido qualquer chance. Ficaria para sempre questionando o que poderia ter acontecido.

Dói levar um fora? Claro que dói. Mas vale a pena tentar o final feliz.

Quando somos adolescentes, temos medo do fora, temos medo até de contar para o garoto que senta na nossa frente que passamos a aula encantada pelo brilho dos fios de cabelo que ele ostenta. Que olhamos sua mão anotando a aula no caderno, que reparamos nos tênis que ele usa todos os dias. Ficamos mudas pois, imagina o "mico" levar o fora daquele menino tão lindo. E se ele contar para os amigos? Que vexame! E, às vezes, nem sabemos que ele fica enfeitiçado pelo cheiro do nosso perfume.

Mas o tempo nos dá um pouquinho de coragem. Claro que, no fundo, ainda temos um medo. Mas chega uma hora em que você se arrependeu já das tantas vezes que ficou calada. Da vez em que, por não tomar a iniciativa, ou por não dar a dica, ficou sem a pessoa que tanto queria. E teve vontade de bater a cabeça contra a parede. E ficou, por meses, pensando "e se..."

Hoje eu sei. Hoje eu sei, pelo menos, tentar. E levar o não com uma certa naturalidade. E levar a vida em frente.

Martha Medeiros tem uma crônica maravilhosa que fala que não se deve colecionar o "não". Que temos que focar no "sim" e o que importa é acreditarmos na nossa capacidade. O título do texto é "Quanto vale um sim". Vale a pena dar uma lida.

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Quanto vale um "sim"

Você consegue um bom emprego na hora que bem entender?

Você descola um amor do dia para a noite?

Se entrar num banco, sai de lá com um empréstimo sem burocracia?

Se você respondeu sim para todas estas perguntas, parabéns.

E fique atento para o horário de partida do seu disco voador, pois a qualquer momento você terá que voltar para o seu planeta.

Entre nós, terrestres, o sim é uma resposta rara. Na maioria das vezes, NÃO há vagas, NÃO querem editar nossos poemas, NÃO temos fiador, a garota NÃO quer ouvir uns discos na sua casa, o garoto NÃO quer usar camisinha e o guarda de trânsito NÃO foi com sua cara e vai multá-lo,sim senhor. NÃO está fácil pra ninguém.

Ao contrário do que possa parecer, esta não é uma visão pessimista da vida. As coisas são assim, dão certo e dão errado.

Pessimismo é acreditar que ouvir um não seja uma barreira para realizar nossos planos.

Tem gente que fica paralisado diante de um não. Nunca mais vai à luta.

Já o otimista resmunga um pouco e em seguida respira fundo e segue em frente.

Quando eu tinha 17 anos, mandei uns versos para um concurso de poesia. Não ganhei nem menção honrosa. Daí entreguei meus versos para o Mário Quintana avaliar. Ele não respondeu.

Neste meio tempo eu estava apaixonada por um cara que ignorava a minha existência.

Quando eu não estava pensando nele, fazia planos de morar sozinha, mas o meu estágio não era remunerado. Aí quis viajar para a Europa, mas não consegui entrar num programa de intercâmbio.

Surpreendentemente, não passou pela cabeça a idéia de me atirar embaixo de um caminhão.

Hoje tenho nove livros publicados (cinco deles de poesia), sou casada com o homem que amo, tenho a profissão dos sonhos e viajo uma vez por ano, e tudo isso sem ganhar na megasena, sem cirurgia plástica, sem pistolão ou pacto com o demônio. O segredo: cada não que eu recebi na vida entrou por um ouvido e saiu pelo outro. Não os colecionei. Não foram sobrevalorizados. Esperei, sem pressa, a hora do sim. O não é tão freqüente que chega a ser banal.

O não é inútil, serve só para fragilizar nossa auto-estima. Já o sim é transformador.

Sim muda a sua vida. SIM aceito casar com você. SIM, você foi selecionado. SIM, vamos patrocinar sua peça. SIM, a Ana Paula Arosio deu o número do celular dela.

Quando não há o que detenha você, as coisas começam a acontecer, sim.

(texto de Martha Medeiros)


Um comentário:

Anônimo disse...

"Viver e não ter a vergonha de ser feliz"! Nada mais verdadeiro!!!
Boa semana encurtadaa!!!!
Bjs!