quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Desolée (ou Curiosidades estrangeiras)(texto da imagem: É a vida, não o paraíso")

Os franceses possuem uma palavra que é um verdadeiro trunfo: o "desolé" (ou desolée, quando é a mulher quem fala). É a típica palavra que serve para tudo.

- O ônibus saiu?

- sim!

- E agora?

- Desolée.

Alguém morreu? Desolée!

O “desolé”, literalmente traduzido, é desolado. Uma palavra meio forte. Você está se compadecendo da dor alheia. Entretanto, os franceses usam isso o tempo todo. É quase um mantra.

Hoje estava no meu trabalho e uma pessoa me ligou para reclamar. Era uma situação ruim, um prejuízo relativamente grande para a empresa (do patrão dela), mas que, infelizmente, não era problema meu. Eu não contribuí em nada para a situação infeliz da moça e, pior ainda, nada poderia fazer para resolver a situação. Em suma, eu não podia fazer nada, exceto ouvir a reclamação e repetir, “Eu entendo” e “sinto muito”.

Em outras palavras, “desolée”.

No caso, eu realmente estava desolada por ela.

A repetição, no entanto, anestesia os sentimentos. Experimente passar uma semana inteira, todos os dias, ouvindo reclamações o tempo todo. Chega uma hora em que tudo vira a mesma coisa e a resposta já está na ponta da língua. Sinto muito.

A repetição também faz com que, mesmo falando, você não sinta nada. E você continua falando o sinto muito. O pior é que é falado com a mesma cara de âncora de jornal. O Brasil ganhar um prêmio e um acidente terrível são narrados com o mesmo ar de distanciamento.

Agora, ainda gostaria de saber porque o desolée me irrita tanto. Acho que é por causa da cara de âncora mesmo. Você ali, no desespero e a pessoa com a cara de nem aí. E nem se esforça para ouvir ou ajudar.

- Mas eu liguei ontem e disseram que tinha vagas.

- Desolé.

- Mas o hotel tem 400 quartos!

- Desolé.

- Mas estou com uma criança de 5 anos!

- De-so-lé!

- E é feriado!

- Desolé!

- O que eu faço?

- Desolé.

Em momentos assim questionamos: Cadê o Dexter Morgan?

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