sexta-feira, 29 de abril de 2011

Depressão ou algo assim...

Era uma vez uma mulher. Assim, como tantas outras. Ainda nova, com dois filhos. Um menino mais velho e uma menina. Ela e o marido trabalhavam, ela concursada, ele empresário e tinham um bom padrão de vida. Os filhos, de 6 e 8 anos, eram bons alunos em uma boa escola.
Moravam, os quatro, em uma bonita casa de um condomínio fechado em uma cidade qualquer. Viajavam duas vezes por ano e ficavam hospedados em excelentes hotéis.
A vida seguia assim. Para todos os que olhavam de fora, a vida dos dois era perfeita. O trabalho, os filhos, a casa própria, dos sonhos, quitada. Não tinham dívidas.
Mas por um motivo qualquer, ela não era feliz.
O marido a adorava. Movia os céus, se pudesse, para fazê-la feliz. Incentivava-a a fazer um trabalho voluntário, a participar mais da vida dos filhos, mas ela se interessava por quase nada.
Seguia os ritos. A rotina era sua amiga. Pelo menos enquanto mantivesse a rotina, não pensava "besteiras". Ia à academia algumas vezes por semana. Trabalhava com certo foco, mas a sombra crescia.
Às vezes brigava com os filhos, assim, sem motivo.
E chorava escondida, no chão do banheiro sem saber de onde vinham tantas lágrimas que se misturavam com a água que escorria do chuveiro.
Não que tivesse coragem, mas muitas vezes queria morrer. Assim, de repente. Um acidente de carro, uma fatalidade qualquer. Um aneurisma. Essas coisas imprevisíveis e que, aparentemente, acontecem com qualquer pessoa.
Sentia raiva por não ser feliz, mesmo com tudo ao seu alcance. Não sabia o que queria. Tinha tudo o que precisava, mas algo lhe dizia que aquilo não era o que ela desejava. Mas o que mais querer, quando se tem "tudo".
Um dia procurou um médico que lhe quis medicar com alguma "pílula da felicidade". Recusou o diagnóstico de depressão. Afinal, como poderia, tendo tudo o que uma pessoa quer, ter depressão.
O médico só poderia estar errado. O idiota não sabe nada da vida dela.
Mais um tempo se passou. Por curiosidade leu um pouco mais sobre essa doença.
Resolveu buscar uma segunda opinião. Desta vez com um outro médico. Mais caro, mais estudado, mais competente, talvez.
Depressão.
Eu?
O casamento estava já meio morno. O marido chegava um pouco mais tarde em casa, os filhos tinham um certo medo dos ataques de fúria da mãe, seguidos, muitas vezes, por horas em que ela se trancava no banheiro e tudo o que se ouvia era o chuveiro escorrendo.
Depressão.
Mas isso não fazia sentido.
Sentindo que não tinha mais o que perder, resolveu confiar nesse médico.
Começou a falar coisas desconexas, mas que ele entendia. Ele fazia sentido das aparentes insanidades dela.
Nada mudou do dia para a noite. Nada muda assim.
Ele não prometeu nada. Lhe prescreveu um remédio, mas não prometeu cura. Na verdade não prometeu nada além de atendê-la durante quanto tempo precisasse. Claro que ele tinha seu preço. Todo mundo tem. Mas ela podia pagar e ele talvez pudesse ajudar.
Em alguns meses ela não ficava mais tanto tempo trancada no quarto ou no banheiro. Não usava tanto (talvez uma vez ou outra) o barulho do chuveiro para abafar o seu pranto.
Com o tempo voltou a sorrir, procurar amigos para sair, conhecer a si própria.
Viajou sozinha pela primeira vez em vários, vários anos. Pensou na vida. Não queria mais a morte. Queria ver a vida.
Os momentos de tristeza não sumiram da sua vida. Apenas começou a sobreviver a eles.
Entendeu por fim que tinha um problema. Uma doença crônica que merecia atenção. Teve momentos de desequilíbrio, de fraqueza, de cansaço. Mas aprendeu que a vida seria assim. Talvez para sempre. E lidou bem com essa realidade.

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