Carta Aberta à Viviane Yamabuchi, Flavio Jesus e Mauricio de Sousa
Como milhões de crianças, comecei a ler por causa dos gibis da Turma da Mônica. Isso em 1983-1984. Não tinha completado 5 anos quando fui "forçada" a aprender a ler, já que os adultos da minha casa estavam cansados de ler e reler para mim as mesmas estórias. Aparentemente "de novo" era uma das minhas expressões favoritas.
Então eram os gibis e uma coleção de livros chamada "Joinha". Acho que nem existe mais. Mas a Turma da Mônica, sim.
Ainda nova lembro de ter visto a Mônica (da fantasia) no shopping. Acho que ganhei um abraço do Cascão. Não sei se minha mãe se lembra disso. Foi em algum shopping, nem sei em qual cidade. Por algum motivo, acho que foi numa visita a Belo Horizonte, mas não tenho certeza.
O fato é que os anos foram passando, meu gosto pela leitura foi crescendo, bem como a lista de escritores prediletos.
Os gibis me acompanharam por toda a minha existência. Foram uma das poucas constantes numa vida cheia de mudanças.
Aprendi a admirar o Mauricio de Sousa por qualidades que nada tinham a ver com seu poder de cativar crianças e plantar nelas o prazer da leitura. Comecei a admirá-lo como ser humano. Como uma pessoa que dá valor à família, à amizade, ao amor, à paz. E comecei a cativar um desejo imensurável de conhecê-lo. De falar isso.
Num mundo como hoje, é difícil ver alguém dando valor a coisas que não se pode comprar. Não se coloca um preço num amigo.
Ainda adolescente, recebia aqueles questionários que, dentre outras coisas, perguntavam quem você gostaria de poder conhecer (vivo ou morto). Minha resposta-padrão era, que coisa, Mauricio de Sousa.
Sonhava em conhecer o Estúdio. Sonhava em ganhar um autógrafo. Não ousava sonhar nada mais.
Não sonhava, de forma alguma, em ganhar um abraço. Ou em ouvir sua voz falando o meu nome. Ou em ver, em seus olhos, que reconhecia o meu rosto. Aquele olhar de "eu sei que já te vi antes..."
Nada disso. Afinal de contas, o Mauricio mora em São Paulo. Eu moro em Brasília. São 1000 km de distância, mas poderia ser um oceano, um século, uma vida. Imagina que eu, uma reles mortal, iria ter algum tipo de contato com ele?
Em 2006, depois de muitos sonhos realizados e alguns pesadelos vividos, conheci no quase extinto Orkut o Flávio Jesus que, numa conversa pelo MSN começou a me estimular a ir ao Orkontro no Parque. A data era no início de novembro, feriado de Finados.
Tive medo. Muito medo. Medo de estar tão perto e não poder falar com o meu ídolo. Medo de sofrer uma decepção. Medo de, a bem da verdade, sofrer. Por qualquer motivo que fosse.
Mas o Flávio estaria lá. E ele já era meu amigo. E ele trabalhava com o Mauricio. E, bem, se tudo desse errado, já teria conhecido alguém da MSP. Alguém que escrevia histórias. Alguém que alimentava os gibis que eu tanto amo com roteiros maravilhosos. O que mais eu poderia pedir, certo?
Peguei um avião, marquei um hotel barato e fui. Com a cara e a coragem. Minha mãe não acreditou. Aliás, ela nem acreditou que o Flávio, da internet, fosse mesmo um roteirista da MSP.
O que dizer? Ela é mais cética do que eu.
O que aconteceu lá foi além de qualquer expectativa. Ganhei autógrafo do próprio Maurício, além de todos os roteiristas que estavam lá, desenhistas, arte-finalistas, enfim... Com quase 30 anos fui criança. Tietei. Tirei foto. Não sei como não chorei.
Acho que fiquei forte com o passar dos anos.
Só sei que virei personagem!
Reencontrei o Mauricio, o Flavio... Reencontrei amigos que fiz na época do Orkontro. Fiz novas amizades, sofri novas decepções.
Os anos foram se passando e os gibis continuando uma constante. Assim como o meu amor, carinho, admiração pela família MSP.
Conheci o Estúdio com a minha mãe. Mais fotos. O Mauricio não estava lá. Conheci o impagável Sidney Gusman. Vi o processo de produção dos gibis. Mais autógrafos.
Veio a era do twitter. Além de manter as amizades que fui fazendo ao longo do caminho, conheci a Viviane Yamabuchi. Trocamos mensagens, telefonemas, emails. Fiz mais amizades com pessoas que se tornaram queridas demais (é de você que estou falando, também, Ju!!).
Num mundo de morais, costumes e crenças duvidosas, num mundo em que todos buscam "levar a melhor", as histórias da Turma da Mônica serviram como um parente, um pai presente, um amigo, um irmão, me guiando por um caminho, acredito, mais correto, mais justo, mais humano.
E hoje ganhei um presente. Não é meu aniversário, nem é uma data especial. É apenas uma quarta-feira, como tantas outras que já vivi. Mas incomparável por algo que aconteceu.
Para fazer um agrado, uma gracinha, liguei para a Viviane Yamabuchi, que ainda estava no trabalho. Conversamos sobre amenidades, trocamos ideias. Eu estava saindo do Lago Sul, bairro em Brasília, depois de ter lanchado com uma amiga, e no telefone com a Vivi. Quando estava atravessando a Ponte Costa e Silva, ela me pede um momento e coloca o Mauricio no telefone.
É. O próprio. O meu ídolo de infância. Aquele, que eu já tinha conhecido, abraçado, tietado, mas que continua sendo ídolo. Continua sendo uma pessoa que eu admiro.
Engasguei. Suei. Quase bati o carro (tudo errado, falar no celular quando se está ao volante). Assim que saí da ponte parei o carro, liguei o pisca-alerta e falei com o Mauricio. Nem sei o que eu falei, na verdade. Tremia como vara verde, achei que fosse desmaiar, morrer no acostamento, ter um ataque. Sei que ele me convidou a visitar São Paulo, o Estúdio, enfim.
Eu, que estava vivendo uma quarta-feira como tantas outras, fui tentar surpreender e acabei surpreendida.
Em julho vou conhecer a Vivi pessoalmente. Vamos comemorar o aniversário dela e não sei o que lhe dar. Ela falou em algo feito por mim, pelas minhas próprias mãos.
Eu não tenho habilidade manual. A última vez que cozinhei, o doce ficou salgado (não perguntem).
O fato é que eu não ousava imaginar a voz do Mauricio saindo "ao vivo" do meu celular. E ainda me perguntou se eu sabia quem estava falando!! Queria ter um gravador... Ou não. Devo ter dado vexame.
De verdade? Para mim esse é o tipo de coisa que acontece com os outros. Não comigo.
Só tenho a agradecer! Ao Maurício, à Vivi, ao Flávio e a tantas outras pessoas do que eu considero a Família MSP... Como:
- Paulo e Sílvia Back;
- Emerson Abreu;
- Gerson;
- Thaty;
- Altino;
- Sidney Gusman;
- Robson.
E os amigos (além dos já mencionados):
- Carla (Caula) Pacheco;
- Anna;
- Makoto;
- Ricardo;
- Maylu
e tantos outros... Está tarde e não me lembro mais de todos os nomes
Obrigada por fazerem parte da minha vida. Obrigada pelo papel que desempenham até hoje em meu crescimento.
Sou uma pessoa melhor hoje por causa de vocês.
E, mais uma vez, obrigada Vivi, Flávio e Maurício por realizarem sonhos que esta brasiliense nem ousava sonhar. Obrigada todos do Estúdio MSP. Obrigada, meus amigos todos!
Amo vocês!