segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Saudade...

Esse buraquinho que fica em nosso peito quando alguém vai embora...seja por pouco tempo, seja para sempre.

Hoje estou com saudades da minha avó. Saudades das noites em que passava com ela e minha mãe jogando carteado depois dos outros irem dormir. Saudades de vê-la na janela da sala quando chegávamos no sul. Saudades de ouvir a voz dela cantarolando "Parabéns à você" em todos os meus aniversários. Quer dizer, até 2001. 

Em 2002 não teve cantoria. Nem depois. O telefone da casa onde ela morava mudou e eu não tenho mais de cor aquele número que me era tão querido. 
Não lembro mais quando foi a última partida de carteado que joguei. As cartas me lembram a minha avó. 

Três horas de jogo entre três gerações, após todos irem dormir. No inverno, a lareira, no verão, as janelas abertas.

São muitas lembranças. Muitas vezes em que ela me ajudou mais do que pude retribuir e me paparicou mais do que eu mereci. 

Foram anos de árvores, de histórias, de memórias, de mimos.

Ela tricotava roupas e histórias. Sempre tinha as mãos ocupadas com alguma agulha (principalmente de tricot e crochet). Mas isso era o que todos viam.

À noite, éramos três. Três mulheres (duas, na verdade...eu era adolescente). Três gerações insones.
Ela buscava o feltro para cobrir a mesa depois que o último se despedia. Desligava a TV, cada uma de nós pegava algo para bebericar, e assim o tempo passava, corria. Contávamos histórias, ríamos. 

Não havia competição. Nenhuma "segurava" cartas que poderiam ser úteis a outra. As cartas eram uma desculpa para conversar, passar o tempo, divertir. 

E fica agora a lembrança. Essa dor que insiste em não passar. Essa memória que me diz que tudo mudou, ainda que a vida tenha seguido adiante.
Se um dia eu tiver uma filha, será que ela jogará cartas comigo e com a minha mãe? Duvido bastante. Para quem ensinarei os jogos que minha avó me ensinou? Ou morrerão comigo? 

Quem será que herdará tudo isso?

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