sábado, 13 de novembro de 2010

DESABAFO

As pessoas tem filhos porque querem. Ou porque não se cuidam. Enfim, fato é que, pelo que estudei de biologia, é necessário um espermatozóide e um óvulo para nascer uma criança. Nenhuma criança pediu para nascer. Eu sei que eu não pedi. Nem as minhas irmãs. 

Aí a pessoa responsável pela parte do espermatozóide vira para mim e fala que a filha adolescente não é "problema" dele. Aliás, nem a mais velha (eu) e nem a mais nova (com 8). 

É problema de quem? Segundo ele, das respectivas mães. Aparentemente, problema meu também. Aí eu não sei ao certo como foi que eu entrei nessa história-nada-a-ver. Não lembro de ter engravidado, não me recordo de ter tido filhos. Aliás, aos 31 evito ao máximo ter uma criança.

Não me leve a mal. Adoro crianças. Mas não quero projetar nelas a história da minha vida, como vejo ocorrendo por aí. Não preciso colocar um ser no mundo para tentar consertar o estrago que o dono da metade da minha carga genética fez comigo. 

4 anos de terapia intensiva. Quatro anos de medicação, consultas, lágrimas num consultório. 31 anos de desabafos com amigas e pessoas que passaram por coisas semelhantes. 11 anos de todos os tipos de abuso, exceto o sexual, cometidos por quem deveria me amar e proteger. 

Agora luto pelo bem estar das outras duas irmãs. Eu, que não tive filhos, preocupo-me em tentar garantir que elas não precisem de terapia. Pelo menos a do meio não conviveu praticamente com o nosso genitor. A outra conviveu, mas não sofreu tantos abusos, pois a mãe não deixou. Ainda assim, já dá para ver o estrago.

E a maior raiva que sinto é ao ver que existem pessoas bem estruturadas que não conseguem ter filhos. E merecem. 

Enquanto isso aquele responsável pela metade da minha carga genética colocou 3 no mundo.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O Amor Existe, Sim!!

Às vezes fico pensando se sou uma iludida, se sou louca, ou romântica demais. Pego-me tentando me convencer que amor talvez seja excesso de dopamina, ou serotonina, ou sei lá que "ina" dessas da vida. Tenho um namorado por quem sou apaixonada e sei que sou retribuída. 

Mas fica a dúvida, será que tudo não passa de química ou de uma ilusão? Será que o amor não existe exceto entre mães e filhos? Será que tudo não passa de uma loucura? Será, será, será?? E dura ele para sempre? E o que é verdadeiramente? 

Confesso que eu fui uma adolescente muito, muito romântica. Do tipo que achava que ia encontrar um príncipe que me salvaria de todos os sofrimentos e cuidaria de mim até o último dia de nossas vidas. Pois, afinal, deveríamos morrer juntos. De preferência abraçados. 

Muitos anos, um divórcio e algumas pancadas da vida depois, acho, muitas vezes, que não é beeeeem assim. 

Há vantagens. Aprendi que quem cuida de mim sou eu e quem me salva dos sofrimentos é o terapeuta. Prozac também ajuda (bem, não no meu caso). O príncipe de hoje pode virar sapo amanhã (ou, na verdade, era sapo com roupa de príncipe, vai saber...o amor é meio cego mesmo!). 

Mas aí, algo traz a adolescente romântica de volta. No caso, o blog 13 anos depois, que mostra que o amor existe, está vivo e bem. No caso da Mirelle, dona do blog, e do Leonardo, seu marido, fixou residência na França. Dá para ver que eles têm um amor saudável, bonito, verdadeiro, sem essa coisa de um anular o outro (agora somos um só, você é minha outra metade, etc), mas um complementando o outro.

Aliás, na última conversa que tive com meu terapeuta, isso não é saudável (essa história de "almas gêmeas, um só coração, somos uma só pessoa, um só ser, um só perfil no orkut...") e pode virar patologia. Tenha medo.

E isso acho bacana. Um apóia o outro, ao invés de se apoiar no outro. Lindo e fofo. Somos dois.

Esperança renovada, volto a sentir mais jovem, mais cheia de sonhos. 

Será que consigo me casar em Paris?

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A Violência Fugindo das Estatísticas

Não quero saber quantas mulheres são agredidas por dia, mês e ano. Agredidas física e emocionalmente. Não quero números. Não quero saber se a maioria vem da periferia ou das grandes cidades. Não importa. Importa saber que ela existe muito além dos números. Ela existe dentro das casas, nas ruas, em outros países. Ela existe e ponto. 
E é trágico. É trágico porque não é divulgada como deveria. É trágico porque ninguém realmente dá bola. É trágico porque existem músicas, cantadas por mulheres, dizendo que "tapinha não dói". 
Tapinha dói. Empurrão dói. Humilhação dói. E tudo isso vai crescendo. A mulher que vai parar no hospital com o braço quebrado depois de uma surra, já levou um "tapinha" antes.
A criança que, morta, estampa os jornais, já levou um tapinha.
E as pessoas que lotam os consultórios de psicólogos e psiquiatras, já sofreram algum abuso físico ou emocional na vida.

E outra que já falei e repito: violência contra seres/pessoas menores ou mais frágeis tem nome - covardia.


quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Um pouco mais de conhecimentos compartilhados...

Fui ao casamento de uma amiga outro dia, onde reencontrei uma conhecida (amiga dela) que certa vez me deu um conselho precioso, apesar de não ter, à época, solicitado qualquer insight. Ou talvez até tenha, mas fato é que, como qualquer jovem estagiária, achava uma grande baboseira quando falavam que dinheiro não resolvia todos os problemas do mundo, sendo que tudo o que eu queria era, bem, ganhar meu dinheiro e, de preferência, uma boa quantia. 

A frase dela (uma pérola que carrego até hoje e que acabei não perguntando se ela ainda se lembra) foi a seguinte: "Se seu(s) problema(s) pode(m) ser solucionado(s) com dinheiro, você não tem problema". Como toda boa jovem estagiária, devo ter ignorado, mas por algum motivo aquilo ficou impregnado no meu ser. Assim como uma outra pessoa, uma amiga, me disse (acho que no mesmo ano) que dinheiro não traz felicidade, traz conforto. 

Pérolas que foram sendo acumuladas com o passar dos anos. 

Hoje, quase 10 anos depois de receber essas pérolas, vejo que, de fato, devo dar ouvidos a quem tem mais experiência do que eu.

Claro que muitos conselhos que ouvimos acabam sendo enviados para a lixeira. Alguns pertencem ali. Como um "conselho" que eu recebia de uma pessoa próxima quando era criança "é melhor puxar saco do que puxar carroça". É, precisamos diferenciar a pérola do caco de vidro.

Graças ao exemplo da minha mãe, aquele foi um conselho que nunca entrou na minha cabeça. Prefiro puxar 10 carroças a depender de puxar saco de qualquer pessoa. 

Prefiro dormir em paz, sabendo que do meu concurso ninguém me tira. No meio de tantas incertezas políticas, estou sã e salva no meu cantinho. 

Claro que não sou rica. Não fiquei e nem vou ficar milionária por causa do meu concurso. Mas vejo, sim, que dinheiro não resolve problemas e nem traz a tão-almejada borboleta da felicidade. A felicidade é a coisa do jardim mesmo. 

Mas, como disse uma amiga, "Dinheiro não traz felicidade, mas ajuda a sofrer em Paris". 

Isso sim é vida!

Antes que você, jovem, venha me dizer que o dinheiro, no seu caso, traria, sim, a felicidade, deixa eu contar um segredo: não se apegue a essa ideia. 

Dinheiro ajuda bastante em vários aspectos, mas não resolve. 

Dinheiro não traz amor, felicidade, saúde. Ele paga as noitadas, a terapia, o plano de saúde.

A felicidade, mesmo, vem de dentro. Os problemas vem de fora, concordo, mas o dindim não resolve tudo aquilo. 

E quando você precisar de um amigo, não é o dinheiro que vai conseguir um para você. 

Conheço pessoas que tem muito dinheiro. Umas sabem viver e outras não. E é simples assim (ou quase). 

Na boa, de que adianta o dinheiro se for para viver isolado? Admiro as pessoas que fazem bom uso. Sem loucuras, na boa, aproveitando a vida. É para isso que ele serve. 

Sergio Jockymann tem um poema chamado "Os Votos" em que ele fala que você deve colocar um pouco de dinheiro na sua frente e falar "isso é meu" de vez em quando, para deixar claro quem é dono de quem. Adoro. 

É isso.