segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Não Devemos Chorar Pela Q-Boa Derramada (ou compre toalhas brancas)


A gente sempre escuta que não devemos dar bola para os bens materiais, que o que importa é o espiritual, que o que temos aqui é temporário, pode ser facilmente destruído em um dia. No entanto, todo mundo quer mesmo umas coisas legais.

Quando me casei, queria poucas coisas, mas de excelente qualidade. Dois bons jogos de lençol, dois bons jogos de toalha. Só para começar. Queria, verdadeiramente, tudo da Trussardi. Eu não tinha condições para tanto, mas meus avós têm de sobra. Mas turco é tudo murrinha... Acabei ganhando, de presente de casamento, ora vejam só, dois jogos de lençol e dois de toalha, mais um edredom (o que uma pessoa faz com UM edredom? Sério? Não pode lavar, né?). Tudo comprado por um desses canais de televisão. A qualidade duvidosa. O gosto, idem.

Queria tudo de cores neutras, branco de preferência, ou tons pastéis. Ganhei cores berrantes. Paciência. Ainda bem que sou precavida e já tinha comprado dois jogos de lençol, mais dois edredons, mais um jogo de toalhas de marcas boas (não era Trussardi, mas tudo bem).

Findo o casamento depois de dois anos (tá, até concordo que casamento de dois anos merece coisa vagabunda mesmo), joguei tudo fora e jurei que ia comprar só coisas excelentes. Para mim. Veio um bom emprego, concurso público, bacaninha e comecei a fazer meu novo enxoval. Um mimo pessoal foi um jogo de toalhas de banho de 1m por 1.50, rosa-bebê, daonde? Trussardi. Resolvi que merecia esse luxo e não tive pena de começar a usar (vou guardar pra quê? E pra quem?).

Isso tem uns dois anos, no máximo.

Ah, quando eu separei, vim morar com meu pai, minha madrasta e minha irmãzinha. Com a mordomia de ter uma empregada trocando minhas roupas de cama e banho semanalmente, nem abro o armário de roupas de cama e banho, que fica no corredor.

Nem abria.

Hoje fiz matrícula na academia. Vou voltar a malhar, voltar a ser atleta. Todo atleta precisa de uma sacolinha de ginástica. E na sacolinha não pode faltar....toalha!

Já tinha um tempo que eu via que sempre que a empregada (opa! Agora é secretária do lar) colocava a minha toalha rosa, ia um tapetinho branco (o conjunto que comprei era completo: duas toalhas de banho, duas de rosto, um tapete), mas nem me ligava muito pra isso. Hoje abri o armário e comecei a procurar uma toalha para o banho na academia e lembrei-me do tapete rosa.

Veio a empregada, ops, secretária, e perguntou o que eu estava procurando. Perguntei do tapetinho. Ela, meio sem graça, falou que ele estava manchado e ela colocou de molho com um pouco de ÁGUA SANITÁRIA. O que fazer, caro leitor, numa hora dessas? Não podia estrangulá-la, não adiantava chorar, não adiantava bater a cara na parede. Respirei fundo e falei que "tudo bem".

Adianta explicar pra ela que o jogo de toalhas é a metade do salário dela? Que essa marca é um luxo, que o algodão é egípcio? Não adianta.

Ouvi minha mãe falando que "vão os anéis e ficam os dedos".

Lembrei da minha irmãzinha, com os pés sujos (adivinha o que sujou o tapete), correndo para o chuveiro e pra fora do chuveiro (antes de ter tempo de lavar os pés), a empregada indo dar banho nela de havaianas (as mesmas que ela usa para descer com a cachorra que, siiiiiiiim, também adora molhar as patinhas e sujar o tapete) e lembrei porque eu já tinha decidido deixar para ter filhos numa outra encarnação.

Lembrei do meu apartamento. Tão tranqüilo. Sem crianças, sem animais e sem água sanitária. Quis morrer, virar hippie, jogar a cachorra pela janela, enfim....

A única coisa que adianta agora é comprar toalhas brancas. Só brancas. Aí pode jogar na água sanitária, pode fazer o que quiser. Vão ficar detonadas mais rápido, mas é melhor do que ficar um conjunto com uma parte desfalcada.

Ou tá mesmo na hora de morar sozinha!